Belo Monte

Fiquei sem postar nada na esperança de terminar uma continuação que estava escrevendo sobre a USP, mas ando sempre sem tempo e/ou sem cabeça pra isso. Então antes disso vão alguns links sobre Belo Monte.

(Pois é. A pessoa não vai mais escrever nem sobre o Japão, nem sobre bobagem, vai só ficar discursando suas opiniões políticas… Espero que vocês não desistam de ler. É que anda um pouco difícil ficar quieta frente a certas coisas. )

O tal vídeo do globais sobre Belo Monte pode ser criticado como manipulador, como simplista, como muita coisa. Mas o fato é que até agora as únicas pessoas que eu tinha visto discutindo Belo Monte eram os amigos biólogos e antropólogos, e com esse vídeo a discussão se espalhou e se animou. E todas as opiniões fundamentadas, aprofundadas e feitas por gente com conhecimento de causa que vi até agora confirmam o mesmo: Belo Monte não faz sentido. Os danos são gigantescos, e os resultados não tão grandes assim – a não ser que se faça mais barragens, aumentando também os danos.

Ou seja, a discussão não pode morrer depois de umas semanas de popularidade no youtube. Ela tem que continuar, não só pra tentar impedir que esse projeto continue sendo feito da maneira atropelada e corrupta como está sendo, mas principalmente pra discutir quais são as outras possibilidades de política energética e ambiental e qual é, afinal de contas, o tal “desenvolvimento” que queremos pro nosso país.

Eu sinceramente não sei como fazer isso. Principalmente estando longe, mas acho que também não saberia se estivesse perto. Dá pra entender a vontade de ocupar alguma coisa, de sentar o traseiro em algum lugar e dizer Soy contra, parem com essa porra, vamos conversar. Mas por hora, converso aqui, como posso.

Acho que já seria um bom começo se todo mundo que quer ter uma opinião a respeito procurasse basear sua opinião. Dizer simplesmente “Ah, é uma merda mesmo, mas não tem jeito, afinal de contas precisamos de energia… você aí mesmo está usando o computador, te peguei!” não vale – a não ser que você já tenha procurado se informar minimamente sobre quanta energia Belo Monte vai gerar, sobre outras possibilidades de gerar o mesmo tanto de energia, sobre as forças políticas que orientam essa escolha.

Aqui vão alguns vídeos a respeito, pra quem quiser saber mais. Assistam, pensem a respeito, conversem com os amigos, com os taxistas, com os colegas de trabalho, com quem puderem. É sempre melhor do que nada.

Esse aqui fala principalmente da relação dessas obras com as comunidades locais, de como é feita a análise e compensação de danos e da (ausência) de debate nesse processo.

É tão bom que eu até vou postar uns pedaços pros colegas que não podem assistir nesse momento:

“Há um discurso que apela para a justificativa do interesse público ou interesse nacional, que invoca o sentido de universalidade, de consenso, de nobreza de intenções, de uma causa maior. E esse discurso de interesse publico produz certos efeitos discursivos que desqualificam qualquer discurso de dissenso, qualquer questionamento a obra. As posições discordantes são vistas como representações de interesses particulares, pessoais, pontuais e mesquinhos. (…) Um efeito de sentido desse discurso é a negação, o apagamento da diversidade cultural e ambiental do país. Há uma desqualificação técnica e científica dos questionamentos.

Não se questiona aqui o desenvolvimento em si, mas o autoritarismo de um planejamento sem diálogo com a sociedade, e sem abertura para a incorporação de outras formas de viver, ser e fazer que fazem parte efetivamente disso que chamamos de Brasil. 

Desde os anos 80, a resistência a essa barragem é histórica. Ela representou, num contexto de fim de regime militar, a volta da democracia, a esperança no respeito à diversidade dos povos indígenas, às diferenças culturais, o respeito à constituição e aos direitos ambientais, todo o regime ambiental que foi construido pós 1992.

O que eu vejo hoje é um enorme retrocesso.

(Fora do assunto Belo Monte, mas na temática “outras formas de viver, ser e fazer”, aproveito pra mostrar esse vídeo aqui, uma das coisas mais bonitas que vi nos últimos tempos.)

Também tem esses debates, feitos pelo mesmo pessoal do vídeo dos globais, que mostram que eles não estão querendo uma discussão tão rasa assim. Esse fala mais sobre a parte da geração de energia e de outras possibilidades de política energética.

(parte 2)

E por último, pra quem resistiu bravamente até aqui, tem também esse projeto pra um documentário. O sujeito fala um pouco mas depois tem parte do material, e é lindo.

E se quiserem apoiar, pode ser qualquer valor, aqui.

Se alguém souber mais vídeos ou textos a respeito, me mande ou deixe nos comentários! De preferência coisas embasadas e de fontes envolvidas no assunto, não do tipo “cidadão na sala de estar dizendo que tudo isso é idiota porque afinal eu já mudei de casa 3 vezes e os índios também podem”.

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2 Responses to Belo Monte

  1. maybimotai says:

    rita, vc viu uma série sobre energia limpa que posteei outro dia? é um podcast de uma rádio holandesa e um dos episódios é sobre construção de barragens em Rondônia. É longo, mas é bem interessante! Tem depoimentos da população e de engenheiros… Enfim, ficou bem completo e bem neutro! E dá pra ir ouvindo no trem, pausando… Eu achei tão legal que vi 3 de 45 minutos em sequencia indo pra faculdade, supermercado, etc…

  2. Pingback: Belo Monte continua lá | elefanteimaginario

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